segunda-feira, 17 de março de 2014

Ora, Bolas!



Dias atrás, após longo e tenebroso inverno afastada de meu blog, postei um breve poema, ainda em estado embrionário, chamado Cansei de Cansar. Como de hábito, divulguei tal “feito” para meus contatos e recebi uma mensagem de uma adorada amiga e exímia tradutora, Janaína, dizendo, “Estou afundada em prazos e tarefas, mas queria te dar um ‘oi’ e dizer que espero que continue a escrever!”. Voltamos a trocar e-mails e em um deles nasceu uma croniquinha - termo “roubado” de meu amigo, o professor José Augusto Carvalho, a qual gostaria de partilhar com você.


Jana,
Gostaria de agradecer-lhe pelo incentivo que me deu para continuar a escrever. Abri um arquivo em meu desktop que chamei de "Reflexões Diárias" e sempre que algo me chama a atenção ou tenho uma ideia, eu o abro e coloco meus pensamentos "no papel". Tem sido um exercício fantástico. 

Às vezes, o que me chama a atenção pode ser algo corriqueiro como o simples fato de uma garota jogar displicentemente uma caixinha de chicletes na calçada, sendo que há uma lixeira a poucos metros de distância (e mesmo que não houvesse, dane-se. Coloca a porcaria da caixinha no bolso da calça e a joga fora na lata de lixo de casa. Ponto!).

Mas sabe por que o fato tanto me chamou a atenção? Eu vi a caixinha na calçada e pensei que ela talvez tivesse caído da bolsa da tal mocinha. Preocupada chamei: "Ei, ei!". Ao perceber que ela estava com um fone de ouvido, acelerei o passo, abaixei para pegar a dita caixinha e foi aí que me dei conta de que esta estava vazia. A garota simplesmente a jogara fora. Intrigada, passei ao lado da garota só para observá-la. Ela, obviamente, tão entretida em si, nem notou minha proximidade - assim não notaria a de um estuprador -, e continuou a andar displicentemente. Com a mesma displicência, que jogou a tal da caixinha; com que, provavelmente, trata os que lhe são próximos; com que, provavelmente, trata o mundo ao redor; com que provavelmente trata...



Resposta de Janaína

Ah linda! Adorei seu texto! Começou devagarinho e quando vi eu já estava ao seu lado vendo a cena e querendo pegar a caixinha. Obrigada pela mini viagem.

Um beijo!




quinta-feira, 13 de março de 2014

CANSEI DE CANSAR...





CANSEI DE CANSAR... 

DO TUDO PRA ONTEM,

DO VOCÊ ME DIZER QUE É UM SER ATRIBULADO, EFICIENTÍSSIMO E, PORTANTO, QUE NÃO TEM TEMPO PARA ME ESCUTAR TERMINAR MINHA FRASE AO TELEFONE, MESMO QUE AQUILO QUE EU TENHA A LHE DIZER SEJA DO SEU INTERESSE, POIS VOCÊ TEM OUTRAS TAREFAS A CUMPRIR, E TANTAS OUTRAS PESSOAS A ESCUTAR. 


CANSEI DE CANSAR...

DA EFEMERIDADE,

DO TUDO PRA UM SEGUNDO ATRÁS E DO NADA PARA AGORA.



CANSEI DE CANSAR...

DE NÃO TER ALTERNATIVAS.



CANSEI DE CANSAR...

DO ...........................



CANSEI DE CANSAR...



CANSEI.



Cláudia S. Coelho



Adendo:

Gostaria de acrescentar a observação que um grande amigo, o professor José Augusto Carvalho, fez quando pedi que tecesse alguns comentários sobre os versos acima:

“Cláudia, o final de seu poema faz pensar que você se cansou de cansar...("Cansei do... Cansei..."). Não acrescente mais nada. Está completo o poema. 
Dizia Saint-Exupéry, em alguma parte de sua obra, que a perfeição existe não quando não há coisa alguma a acrescentar, mas quando não há nada a tirar.”

Ao ler o carinhoso comentário de meu amigo transcrito acimo e ater-me às entrelinhas e não às linhas, percebi que meu poema poderia até estar completo, mas longe de estar perfeito – e nem era essa minha pretensão – os versos foram criados em um momento de desabafo interno – "desabafo interno", poderia haver paradoxo maior?!

Proponho, então, que as palavras de Saint-Exupéry, que ainda ressoam em mim,

A perfeição existe, não quando não há coisa alguma a acrescentar, mas quando não há nada a tirar.

levem-no à reflexão, assim como os versos que criei para mim, para você.

Por fim, gostaria de ressaltar que também "cansei de cansar" da impaciência, da falta de educação e da grosseria para as quais sempre há uma desculpa. 



Com abraços cansados, nunca exaustos e sempre reflexivos, 

Cláudia S. Coelho