terça-feira, 15 de janeiro de 2013


CRÔNICA DO ORÁCULO DO PÃO DE 15 E 16 DE JANEIRO DE 2013


FILOSOFIA DA FAXINA


Hoje, descobri que arrumar a casa além de ser um processo terapêutico - já que dificilmente alguém que esteja desordenado interiormente consegue manter sua casa em ordem; à exceção dos que sofrem de TOC, o extremo oposto  – é um processo filosófico.  

Estou prestes a voltar para meu apartamento próprio; em um prédio antigo com mais de 50 anos, o qual não tem garagem, mas que se tornou o xodó do bairro.

Até pouco tempo, era considerado um prédio velho, sem recuo e hoje é uma raridade, pois além de bem conservado, mantém características que não mais se encontram: pé direito alto, aposentos espaçosos, vizinhança agradável – onde todos se cumprimentam e a Dona Lúcia, dona do mercadinho da esquina, nos recebe com um sorriso e tem para vender tudo que você precisa para o dia a dia - a preços módicos; mais baratos que os dos supermercados. (Saudades da Dona Lúcia; do Sr. Mazza, o síndico que além de cuidar de nosso prédio me trata como filha; da Maria Rosa, amiga de todas as horas).

Bem, voltando à faxina, hoje eu estava com um espírito diferente, questionando o que, quando mudasse, levaria de volta para meu antigo apartamento ou entregaria a uma entidade beneficente. De repente deparei-me com meu sofá: sabe aqueles sofás antigos, de três lugares, feitos de couro, tão ou mais confortáveis que uma cama? Pois, é. Minha mãe me deu um desses quando fez uma reforma na casa, achando que ele não tinha mais serventia. Meu primeiro instinto foi pensar: “Por que não trocá-lo por outro?”, mas no segundo seguinte caí em mim – ele é uma raridade, não se fazem mais sofás como esses, que resistem aos anos de uso e abuso sem reclamar, sem perder a forma, e que te acolhe quando tudo o que você mais quer é ver “nada” na TV – e decidi que o levaria comigo; assim como minha cristaleira – comprada há mais de 30 anos em uma loja de “antiguidades”, a qual me acompanha em minhas idas e vindas até hoje.

Apesar de não devermos comparar pessoas com objetos, acho que aqui cabe um adendo: Qual o limiar entre considerar uma pessoa ou objeto velho, obsoleto ou um ícone que resistiu ao tempo? Acredito ser uma simples questão cronológica; pelo menos no que tange aos seres humanos. Por que uma pessoa aos 50 é tida como um indivíduo ultrapassado e, ao aos 80, um sábio; por vezes,  "patrimônio da humanidade"? Vide, Oscar Niemeyer, Saramago, Drummond e tantos outros.

O conhecimento da arte do bem viver se constrói ao longo dos anos, dia após dia, o que me fez lembrar Mário Sérgio Cortella, que declarou em uma palestra intitulada, Não Nascemos Prontos : “Cuidado quando dizes que quanto mais uma pessoa vive, mais velha ela fica. Pois se caso quanto mais alguém vivesse, mais velho ficasse, seria necessário que ele tivesse nascido pronto e fosse se desgastando com o tempo. No entanto, gente não nasce pronta e caso o fizéssemos não existiria educação, construção, desenvolvimento”. 

Não existiria o vir a ser.

Até alguns fogões, sapatos, geladeiras que nascem prontos e se desgastam, terminam por ser considerados kitsch e se transformam em objetos de decoração.

Ainda de acordo com Cortella: “Hoje somos nossa 'edição' mais atualizada". E, eu, Cláudia, espero "publicar" edições cada vez mais atualizadas de mim.

Portanto, deixe os estereótipos, conceitos ultrapassados ou clichês de lado.
Busque aprender uma coisa nova a cada dia. Produza. Faça planos. Tenha projetos. 

Enfim, viva!
Abraços,
Cláudia Coelho


2 comentários:

fecoelho disse...

Eu adoro aquele apê..rssss,e adoro este clima de vizinhança,coisa que tenho lá no meu bairro Vila Sônia,onde lá eu sou a Fernanda do Brechó Ponta da Vila,onde o Seu Ivo, aquele senhor que costumava arrumar nossas geladeiras e agora aposentado,vem nos visitar diariamente e bater um papo conosco!Digo que ele é o meu pai postiço,lá eu sou apenas uma comerciante como todos os outros,e a cada dia a gente conhece uma história diferente!Coisas que por aqui nem pensar!!Não que eu não goste !!Amo viver ao lado do Ibirapuera,mas também gosto muito do meu canto,da minha casa,dos meus cachorros!!Beijo e boa noite pequena!!Poxa descubro em você uma escritora muito talentosa!! Parabéns

Cláudia Coelho disse...

Vindo de você é mais do que um elogio!