quinta-feira, 18 de julho de 2013

18 DE JULHO - REFLEXÕES SOBRE NOSSA ÉPOCA

REFLEXÕES SOBRE NOSSA ÉPOCA



O Eu aspira comunicar-se com outro Eu,
com alguém igualmente livre,
com uma consciência similar à sua.
Só  dessa forma pode escapar da solidão e da loucura.
Ernesto Sábato

Passada pouco mais de uma década do início do século XXI, já podemos contar com a visão daqueles que buscaram ser - mais do que meros espectadores de nosso tempo - leitores de nossa época. Alguns aventaram defini-la como “A idade da Ansiedade”; outros, “A Era da Depressão Epidêmica” e, ainda há aqueles que a definam como “O Século da Perversidade”. Por não querer assumir uma postura dogmática, afinal concordo com todas as leituras feitas até então – ou seja, estamos, sim, vivendo uma época marcada pela ansiedade, pela depressão, pela perversidade... pela neurose, pelo consumo desenfreado; o amor descartável – a lista é extensa, resolvi concentrar-me no pano de fundo, na mensagem sublimar inerente a todas as definições acima: o Vazio.



Contudo, compreender a sociedade e a época atual é um trabalho complexo haja vista o vasto número de títulos dedicados ao tema. Nunca na história da humanidade mudanças ocorreram com tal velocidade, em tão curto espaço de tempo. Este é um momento de ajuste face aos avanços tecnológicos, à derrocada do modelo econômico, à nova sociedade de consumo, aos relacionamentos virtuais. O que me leva a perguntar: Será possível ajustar-se sadiamente a uma realidade que foge de todos os padrões estabelecidos até então?

Nossa era está sendo marcada pelo individualismo exacerbado; pelo descrédito nas instituições; pela corrupção deslavada; pela violência desmesurada, pelo fanatismo do “ter” em detrimento do “ser, a obsessão pelo poder, e mais do que tudo pela efemeridade e perversidade das relações humanas e suas consequências.

Eu me amo, eu me amo, eu me amo

O filósofo francês Gilles Lipovetsky (2005), já apontara para esse problema em 1983 ao cunhar o termo e publicar o livro “A Era do Vazio”, no qual afirma que a sociedade contemporânea passa por um processo de personalização em que o desejo e escolhas pessoais são cada vez mais valorizados em detrimento do outro, da comunidade – é a era do vivo comigo, por mim, para mim. Consequentemente, nossa sociedade está criando indivíduos isentos de concretude [de valores, sociológica, ideológica,etc.], restando-lhes nada além do vazio. É a era do tudo posso, tudo quero, tudo tenho, mas não, do tudo Sou.

A impressão que se tem é a de que o homem retornou à uma época anterior a de Copérnico, voltando a se considerar o centro do Universo. Isso não invalida a importância de nutrirmos nosso ser, valorizá-lo, desenvolvê-lo, mas, não de modo narcísico, ao contrário, nosso objetivo deve ser a interação salutar com o mundo, com a sociedade que nos cerca, caso contrário nos tornaremos autômatos, vivendo em uma sociedade na qual valores superficiais – poder, status, sucesso – substituirão realidades importantes como o amor, a família e a estrutura da comunidade. Tornou-se imperativo assumir que “Somos o que sentimos e não o que fazemos”. (Lowen, 1983).

Parafraseando Lipovetsky (2004), a modernidade e a pós-modernidade são conceitos ultrapassados. Vivemos no mundo da hipermodernidade – do liberalismo globalizado, da mercantilização do modus vivendi e da individualização galopante – da cultura do excesso, do sempre mais, do hipermercado, do hiperconsumo, do hipertexto, do hipercorpo, do hipercibernético... Tudo se tornou intenso e urgente. O movimento é uma constante e as mudanças ocorrem em um ritmo quase esquizofrênico, determinando um tempo marcado pelo efêmero - o que era verdade ontem, hoje talvez não tenha mais valia - a insegurança nas relações prepondera e a incerteza de quem é, na realidade, o outro, nunca foi tão presente.

Vivemos em tempos de ausência e aparência (ou da felicidade sem lembranças).


(contribuição de Adércio Leite Sampaio)

Se no século XX vivíamos o risco, cujas consequências eram mensuráveis e ao analisá-las podíamos optar por assumi-lo ou não, hoje perdemos todas as referências, todos os parâmetros de escolha. Vivemos no mundo do “uni-duni-tê”, jogamos no escuro: qualquer um pode criar o perfil que quiser na Internet – um Eu Digital; (semelhante ao Eu Lírico de outrora, o outro imaginário, que falava pelo poeta, mas não era o poeta) e vestir uma “máscara”, criar uma persona impecável e deixar um rastro de destruição por onde quer que passe.
Em tempos de vazio existencial o perigo de nos expormos afetivamente em uma relação que ameace nossa integridade, ou até, nossa centelha de vida, nunca foi tão presente. Caso tivéssemos um “raio-x de almas” seria fácil identificar se estamos prestes a ser enredados por um predador de almas, ou não. Infelizmente só a consciência do padrão de comportamento de tais indivíduos e da forma como eles agem, se relacionam e escolhem suas presas pode ser de ajuda.

Espero que este post o ajude a distinguir quem são esses “bípedes” vazios que criam para si uma persona tão bem elaborada que torna praticamente difícil distingui-los das pessoas comuns (veja o filme "O Psicopata Americano", lançado em 2000)  - ele pode ser seu chefe, seu vizinho, seu namorado - qualquer um dentro de seu círculo de relacionamentos, e espero que com base nesse conhecimento consiga...




Não permitir ter sugado teu bem mais precioso: tu’ alma.
Não permitir ser levada a duvidar do que pensas, sentes, intuis.
Não permitir ter destruído o Humano em ti.
Não consentir ser abusado, ser mais uma vítima de autômatos incapazes de estabelecer relações baseadas na verdade, na honestidade, na ética e na consciência – princípios básicos que sempre nortearam as autênticas interações humanas.
Cláudia Coelho







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