MOMENTO
DE DESCONTRAÇÃO E DE REFLEXÃO DO ORÁCULO DO PÃO DE 04 DE FEVEREIRO DE 2013
“A sabedoria do Matuto”
Matuto: do latim matta + uto.
Diz-se de ou indivíduo que vive no campo e cuja personalidade revela rusticidade.
Um
relato de Cavalcante Ferreira gravado em 02 de fevereiro de 2013.
“Apesar
de hoje morar na cidade, fui criado no mato, em um sítio e como não tinha muitos
amigos, passava o tempo observando a ‘sociedade’ dos animais que viviam no
quintal da casa de meu pai. Tinha de tudo: pato, peru, galinha, bode, cabra, cabrito,
boi, vaca, cachorro...
Bem
quando eu era pequeno eu costumava jogar milho perto dos meus pés e me divertia
vendo os animais avançando pra cima de mim pra comer o milho. Mas, depois de
ter ouvido um comentário do meu pai - um matuto, criado no mato, que não frequentou
a escola, mas era sábio, tinha muita experiência de vida - o peru, em
particular, passou a chamar minha atenção.
Aquela
ave danada comia de tudo, mas tinha uma coisa que ela adorava - o cocozinho
seco da galinha - pra ela é como se fosse um ‘fandango’, um ‘salgadinho’. O
peru ia ciscando aqui e ali atrás do cocozinho e comia sem parar. Mas, tinha um
problema, como o pescoço do peru é muito longo o ‘salgadinho’ demorava
pra chegar no papo dele e ficava entalado no pescoço. Aí, formava uma bola e o
bicho começava a ficar sufocado e, sempre que isso acontecia, a gente fazia
massagem no pescoço dele até que aquele bolo chegasse no papo; então, ele
voltava a respirar normalmente e continuava a comer os ‘fandanginhos’.
Meu pai,
depois de observar o que acontecia com o peru, chegou à seguinte conclusão: ‘Nós
não podemos ser iguais ao peru e ficar se engasgando com cocô’.
O
que ele queria dizer com isso? Que não podemos, principalmente no mundo de hoje,
nos estressar com bobagem. Por quê? Porque a gente, por nada, acaba tendo úlcera, depressão, taquicardia, pressão alta, fica xarope e pode até ter um
enfarte. Lógico que uma preocupação séria – a doença de um filho, de
um pai, de uma mãe, de um familiar próximo; uma conta que você não conseguiu
pagar porque o dinheiro que estava contando não entrou; um assalto, abala a
gente, mas perder tempo com picuinha –
uma briga com o vizinho, com o porteiro, uma discussão com o cara que te deu
uma fechada no trânsito... não leva a nada; essas bobagens a gente tem de deixar passar,
pois numa dessas você pode até perder a vida.
Portanto,
aprendi e guardo pra mim: não sou um peru pra me engasgar com cocô. Pra me
tirar do normal uma coisa tem de ser muito séria. Ainda não virei monge, mas hoje
vivo sempre zen, sempre tranquilo e com Deus em meu coração, só isso.
Sobre o autor do relato: Cavalcante é mais
uma das pessoas, como Sanduca e Sônia, que entraram na minha vida de modo
inesperado e hoje ocupam um lugar especial em meu coração. Sabe quanto tempo ele levou para fazer o desenho abaixo? Menos de cinco minutos.
Obrigada Cavalcante!!!
Com amor e calor,
Cláudia Coelho
2 comentários:
Como sempre admirando mais uma história!Quanto mais simples melhor!!!Como é bom poder passar por esse mundo e ter a oportunidade de conhecer novos mundos,novas pessoas.
Isso é o que eu chamo "ampliar a visão de mundo". Sair de nosso mundinho e descobrir que a vida apresenta tantas e tantas opções.
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