sexta-feira, 14 de dezembro de 2012



ORÁCULO DO PÃO DE 13, 14 E 15 DE DEZEMBRO DE 2012





Por estar preparando meu material para a Roda de Conversa da Feira Orgânica do Ibirapuera do dia 15, decidi postar uma única mensagem para os três dias acima. 


DESABAFO III

(Leia até o final e não perca a história do coelhinho abaixo)


CRÔNICA CONTRA OS MAUS-TRATOS




Em um desses dias de calor infernal - que fazem um passeio pelo quarteirão parecer uma corrida pelas dunas do Saara - estava em casa trabalhando tão concentrada, com o ventilador ligado na potência máxima, que mal ouvi o telefone tocar. Era minha mãe e vizinha: 

- Cláudia, Cláudia liga pra portaria e vê o que está acontecendo! 

Seu desespero me fez sair do estado de torpor em que me encontrava (pois quando escrevo nada mais existe além de mim e o texto), e perguntei, no estilo clássico do livro que estava traduzindo: 

- Mama, que te afliges? 

-Você não está ouvindo os latidos?
-Que latidos? Respondi.
-Dos cãezinhos.
-Mas, que cãezinhos?
-Dos cãezinhos do apartamento no último andar do seu prédio. 

Não é fácil ter sua mãe morando no prédio ao lado, mas, em certas ocasiões é uma benção. 

Desliguei o rádio que sempre toca baixinho, meu som ambiente e proteção contra as buzinas que não param de tocar na rua onde moro, e o que ouvi? Cãezinhos latindo, ganindo, uivando, desesperados, batendo com as patinhas no que parecia ser uma porta de vidro. 

Tomada pelo espírito de “paladina” da justiça liguei para a portaria para descobrir o que estava acontecendo, e adivinhe qual foi a resposta?

-Ah, Dona Cláudia (odeio que me chamem de dona), a gente não sabe donde vem.

- Vem do 17º andar, tenho certeza, minha mãe me falou.
- Mas, o que a gente pode fazer?


- Pegue o interfone e ligue para cada um dos apartamentos do 17º andar para tentar descobrir o que está acontecendo! Respondi com meu característico tom professoral.

-Mas, a gente..., fica chato...

- Chato? Sabe o que é chato?  Alguém chamar a Sociedade Protetora dos Animais.  

Desliguei o interfone e esperei – um minuto, dois minutos... dez minutos e os pobrezinhos não paravam de latir. Nesse meio tempo, fiquei sem ação, olhando para meu gato dormindo como um rei, um vira-latinha tratado a pão de ló. E, então, meu instinto falou mais alto.

Intrépida, peguei o elevador até o 17º andar, decidida a descobrir, pelo menos de qual apartamento vinham os latidos e pensando qual seria a melhor providência a ser tomada. Quando lá cheguei a moradora do 171 estava com a porta aberta conversando com o porteiro:

- Acho que vem do 173. Dizia, ela. 
- Mas eles estão sozinhos? Interrompi.
-Não a diarista está aí.

Sem pensar duas vezes bati à porta e me deparei com uma pobre coitada, não no sentido pejorativo - com o olho roxo e vários pontos no supercílio – imagino o que pode ter causado tal estrago, mas não ousei perguntar.

Então, entrei no apartamento (alguns me criticaram por isso; outros me incensaram) e o que vi? Duas cadelinhas beagle, aflitas, presas na varanda do apartamento. Sem pestanejar abri a porta e tal foi a alegria das pequenas que quase fui derrubada por elas - elas me lamberam, pularam em cima de mim e em seguida foram direto para o pote de água.  Pareciam ter chegado de uma peregrinação pelo deserto do Atacama.

Qual foi a justificativa da diarista?

- Eu precisava passar aspirador na sala.

Quanto tempo é necessário para passar aspirador em uma sala de 2 x 3 metros quadrados? Minha diarista faz o mesmo trabalho em, no máximo, cinco minutos, e muito bem feito.
Por fim, com as duas cadelinhas nos braços fui até a varanda e quem vi do outro lado? Minha mãe e sua secretária, Edi, batendo palmas.

Sem dúvida, esse foi um dos momentos mais gratificantes de minha vida. Senti-me uma heroína.



Esta não sou eu, mas, sim, Cida, incansável protetora dos animais

Horas depois, entrei em contato com a proprietária do apartamento, com o intuito de me desculpar por ter tomado tal atitude – receosa de que ela dissesse que eu havia invadido sua casa.

Para minha surpresa e alegria, ela, além de me agradecer, disse que estava grata, pois já desconfiava que “algo de estranho” estava acontecendo. Suas cadelinhas, antes alegres e brincalhonas, estavam sempre amuadas, escondidas em um canto e rechaçavam qualquer um que tentasse chegar perto delas.




Como pode alguém permanecer impassível ao sofrimento de outro ser?

Infelizmente, hoje o descaso, a negligência e os maus-tratos em relação à natureza, em seu sentido lato, imperam. 

A maior parte da humanidade, acostumada à abundância da Mãe Terra, ainda não se deu conta de que seus recursos são finitos e continua tratando com desdém o solo, os rios, o ar, as plantas, os animais, as crianças, o próximo...   

Mas, é possível alegar inconsciência perante às inúmeras campanhas em prol da sobrevivência do planeta? Como não saber a extensão do mal causado à Terra ao se desperdiçar uma simples gota d’água?



Cláudia Coelho



A história dos cãezinhos além de trazer à memória a história do pintinho postada em 04 de dezembro, a qual serve de contraponto para a crônica acima, fez-me lembrar de que ainda não havia postado o depoimento de minha amiga Sônia Maria sobre o coelhinho, o qual segue abaixo. 



Cláudia: Sônia, me conta a história do coelhinho. 

Sônia: Bem, um dia eu estava lá em casa e fiquei sabendo que a coelha da vizinha tinha dado cria e que ela tinha resolvido doar os coelhinhos. Então, fui até lá, e escolhi um deles - o Ted. Esse foi o nome que resolvi dar pro coelhinho.

Fiquei com ele, dormia com ele. Ele era pequenininho, filhotinho. Lindo! Era preto e branco e tinha uma mancha pretinha em volta dos olhos. Parecia um piratinha. Ele foi crescendo comigo, eu dava comida, buscava mato pra ele, pegava cenoura – picava- e ele comia tudo, mas só na minha mão. 

Aí, o Ted foi crescendo, crescendo, e eu continuando a cuidar dele e toda vez que eu batia palma ele pulava em mim. 

Ele era impossível, subia na minha cama e me chamava do mesmo jeito que eu fazia; “batendo palma”. Ele não dormia com mais ninguém; sempre comigo. Eu até tentei afastar ele, mas não teve jeito. 

Então, um dia, eu peguei na granja uma coelha linda pra ele cruzar  -  naquela época não existia Pet Shop. 

A coelha ficou lá em casa durante uma semana. O Ted e ela até ficaram amigos, mas nada de ele querer cruzar. E o mesmo aconteceu com todas as coelhas que eu trouxe pra casa, o Ted era fiel a mim.

C: E que fim deu a história?  

S: O Ted nunca se interessou por uma fêmea e ficou lá em casa até velhinho, sem nunca cruzar com nenhuma coelha. Ele era realmente apaixonado por mim, não me largava - era meu companheiro - aonde eu ia, lá tava ele.Você acredita? E morreu de velhinho. Os bichinhos se apaixonam por mim! 

C: E, por que os bichinhos se apaixonam por você?

S: Cláudia, acho que eles se apaixonam por mim, porque eu adoro todos eles.  

C: O coelhinho deixou de lado seu instinto, se tornou seu companheiro e nunca cruzou com uma coelha. Ele morreu virgem?

S: Pois é, morreu velhinho com cerca de 15 anos, virgem e sem nenhuma namorada. Ele nunca ficou atraído por uma coelha, coelho ou qualquer outro bichinho, acredita? Tava sempre do meu lado, não saía do meu pé. E assim foi durante toda a vida.
Bem, Cláudia, por hoje é só. Da próxima vez que a gente se encontrar vou contar a história do Bruce, meu cão adorado que viveu comigo por 15 anos.





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