terça-feira, 4 de dezembro de 2012


ORÁCULO DO PÃO DE 04 DE DEZEMBRO DE 2012

PACIÊNCIA

Teça a paciência necessária para observar o germinar da semente que, ao rasgar o solo, abre-se para o universo gerando Vida.


Cláudia  Coelho



Entender que tudo tem seu tempo.
Que tudo vem a seu tempo.
Dar o tempo necessário para:
Crescer,
Brotar, Florescer.
Aceitar o ciclo da vida.
Respeitar o fluxo do tempo.
Observar o tempo passar.
Esperar o tempo certo para:
Plantar,
Colher,
Agir,
Seguir,
Aprender. 
   Magui

Segue abaixo a transcrição de um relato apaixonado e orgânico que minha grande amiga Sônia fez sobre uma experiência vivida na infância na casa de sua mãe, na Vila Nhocuné, na periferia de São Paulo.  Fiz questão de gravar e postar esta história, pois ela me remete, em especial, a uma das principais definições do termo orgânico:

“Aquilo que remete ao desenvolvimento natural.”


Tenho certeza de que ao lê-la, você entenderá por quê.

“Minha mãe criava galinhas e fazia um troca-troca de galinhas com o vizinho que também criava. E, aí uma galinha teve seus pintinhos, e tinha um tão bonitinho, eu gostei dele, e ficava olhando pra ele quando dava comida pras galinhas, e o pintinho começou a crescer. Naquela época as ruas eram de terra e tinha umas valetas e as galinhas fugiam pra lá e minha mãe vivia dizendo: ‘Sônia, vai lá buscar as galinhas que tão indo pro meio da rua’. E eu ia lá buscar e trazia elas pra dentro de casa. Minha mãe tinha uma cerca feita de rosas, lindas rosas, cheias de espinho, pois naquela época faziam cerca com rosas.



E teve um dia que o pintinho, que tava ficando grande, foi pra rua e ‘tum’ um carro pegou ele. Eu comecei a chorar como uma desesperada e peguei o pobrezinho que ficou com a pata quebrada no meio. Sabe o que eu fiz, levei ele lá no Getúlio, o farmacêutico. Quando cheguei lá ele começou a dar risada: ‘Sônia, não pode. Aqui é farmácia’. E eu disse: ‘Moço, por favor me ajuda, ele tá piando, ele tá chorando’. Sabe o que o Getúlio respondeu?: ‘A única coisa que cê pode fazê é tirar as penas, pôr na panela e comê’. Aí eu já tava indo embora, xingando o homem quando ele falou: ‘Sônia, tô brincando! Vem aqui’.
Então, ele me deu dois palitos, de graça, parecia palitos de sorvete e me ensinou como fazer uma tala e me disse pra ficar cuidando dele. Aí eu fiz a tala no pintainho, que eu pensava que era macho, mas descobri que era uma galinhazinha e fiquei cuidando dela, dando comida na minha mão e quando eu tirei a tala ela tava boa. Só que ela não queria mais ficar no terreiro, só queria ficar sentada no meu ombro. E, eu fui crescendo e ela crescendo comigo. Comia do meu prato! Que saudade desse tempo! Eu chamava e ela vinha que nem cachorro. Ela até dormia comigo, nas minhas costas. Um dia ela botou um ovo e eu senti o ovo botando, que coisa esquisita - o ovo quando sai da galinha a casca sai mole e só quando ele entra em contato com o ar é que ela fica dura. E o ovo era morninho! Fiquei tão feliz que comecei a chorar e aí ela pulou da janela fazendo ‘có có ró có’, acho que anunciando que tinha botado um ovo – naquele tempo a gente podia dormir com a janela aberta, não tinha tantos larápios como hoje em dia. Aí fiz um ninho pro ovo, pra ela se acostumar a chocar no ninho, porque minhas costas não são ninho. Mas não adiantou de nada. Ela levou o ninho pra minha cama. Ela queria ficar perto de mim – ela ficou minha amiga! Ela pôs vários ovos e aí veio os pintainhos e eu deixei minha cama pra ela e fui dormir com a minha irmã. Teve um dia em que caiu uma chuvarada que alagou nosso quintal e os pintinhos caíram em uma poça e ficaram com os biquinhos pra fora, piando. Pois, acredita que ela entrou na minha casa pra me chamar, desesperada? E aí eu olhei lá fora e peguei pintinho por pintinho.
Sabe, eu tenho até vontade de chorar quando lembro dessa época, hoje é tão difícil as pessoas darem valor pra gente.
Hoje eu contei a história do pintinho, da próxima vez vou contar a do coelho.”


 Dá para perceber os olhos e orelhas alertas do coelhinho?

Infelizmente, eu, Cláudia, devo admitir que dificilmente sentirei a emoção e o calor de uma galinha botando um ovo em minhas costas. 

No entanto, nada me impede de tecer a paciência necessária para observar o germinar da semente que, ao rasgar o solo, abre-se para o Universo e gera Vida. 


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