quarta-feira, 20 de março de 2013


PARÁBOLA DA APRENDIZAGEM DE 21 DE MARÇO DE 2013 - PARTE I






Era uma vez uma menininha que como toda criança curiosa e sagaz não se cansava de perguntar: “Mas, por quê?”, a tudo que lhe diziam. A garotinha foi crescendo e seu senso investigativo tornando-se cada vez mais aguçado. Já adulta, não mais se contentava em saber dos fatos, fossem eles políticos, religiosos, esotéricos, exotéricos... queria conhecer seus meandros, suas origens e consequências e, quando começou a trabalhar sua sede de saber era tanta que mergulhou e buscou aprofundar-se em todos os aspectos de sua profissão e, então, chegou o momento fatídico: aquele dia em que ao acordarmos contemplamos o marasmo - sentimo-nos como se não tivéssemos mais para onde ir. A garota, agora uma mulher, achava, em sua ignorância, que não tinha mais nada a aprender e decidiu sair, caminhar sem destino e, sem mais nem porquê, deparou-se com uma placa colocada em frente a uma pequenina casa de tijolos aparentes que dizia: “CURSO PARA AQUELES QUE TUDO SABEM”.  


Ressabiada, entrou e subiu as escadas que levavam a um salão sem ornamentos, apenas algumas almofadas jogadas aqui e ali, com uma vela acesa no centro. Sentou-se, então, em um canto e esperou entediada. A sala foi, aos poucos, ficando repleta de pessoas que carregavam o mesmo semblante desconfiado e entediado que o dela. Às tantas, quando a vela apagou-se, um senhor com vestes brancas e olhar compassivo entrou no salão e perguntou:
- Na opinião de vocês quem foi o maior filósofo da antiguidade?
Os participantes se entreolharam confusos, com medo de dar a resposta errada, afinal se consideravam sabedores. Por fim, um deles disse: “Sócrates!”. “Sim, Sócrates!”, todos clamaram a seguir.
- E qual foi seu mais importante ensinamento?”. Perguntou o senhor.
Todos se entreolharam, mais uma vez sem saber o que responder, e após instantes de silêncio o senhor encarou cada um dos presentes e exclamou:
-“Só sei que nada sei”.
E continuou:
- Qual foi a última vez que vocês se abriram para ver o pôr do sol e perceber que a cada dia ele tem matizes diferentes, para ver o outro e perceber que o brilho de seu olhar está diferente a cada momento? O mundo não para, as pessoas mudam, a natureza se transmuta e a vida se transforma, basta observar. Ao achar que tudo sabemos, tornamo-nos obsoletos, deprimidos, sem lugar no mundo. A maturidade vem de saber que aquilo que talvez tenha sido verdade ontem, não mais cabe no momento presente. Mantenham os sentidos alerta, sugando o que a vida tem a lhes ofertar aqui e agora e dessa forma estarão conectados com o divino em vós.
E sem mais uma palavra, o homem com vestes brancas e olhar compassivo, sem citar seu nome, retirou-se do recinto.
A garotinha que se transformara em mulher, assim como a maior parte dos presentes, lá se quedou buscando absorver o que ouvira. Momentos depois, levantou-se, desceu as escadas, e ao sair pela porta olhou para o céu a fim de vislumbrar o pôr do sol.
  Cláudia Coelho


"Reexamine tudo que lhe foi ensinado e descarte qualquer coisa que insulte sua alma"
Walt Whitman

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